Na Faixa de Gaza, os militares de Israel usaram força letal contra os manifestantes civis envolvidos na Grande Marcha do Retorno de 2018. No seu acórdão de maio de 2018, o Supremo Tribunal israelense considerou este uso da força letal como um legítimo acto de autodefesa. O presente artigo questiona o discurso belicista e a resposta securitária de Israel a estes protestos através de uma distinta abordagem ontológica.
O artigo argumenta que o projeto israelense colonial de ocupação (settler colonial) em curso racializou os corpos palestinos, constituiu-os como uma ameaça à segurança e historiciza a política israelense de atirar a matar como um contemporâneo modo de se desfazer dos corpos nativos. Tal projeto inclui um novo enquadramento do conflito armado que comprime o âmbito da categoria de «civil» e alarga o alcance dos alvos legítimos, assim permitindo a morte de um maior número de palestinos nos termos da lei. O artigo designa esta démarche legal de «civilidade comprimida».
Noura Erakat
N. ERAKAT (n.1980), formada pela Universidade de Berkeley, é jurista especializada em direitos humanos e professora assistente na George Mason University, nos EUA. Foi consultora jurídica (2007-09) do “Comité de Supervisão” da Câmara de Representantes dos EUA e integra o conselho de administração do Institute for Policy Studies, think tank baseado em Washington, D.C., desenvolvendo atividade no âmbito da política externa, direitos humanos, economia e segurança dos EUA. É autora de múltiplos ensaios breves e assina dois principais livros, Aborted State? The UN Initiative and New Palestinian Junctures (co-editado com M. Rabbani, 2013) e Justice for Some. Law and the Question of Palestine (2019). Em 2010, co-fundou o jornal online Jadaliyya, ponto de encontro entre especialistas e não-especialistas nos grandes temas da atualidade do Médio Oriente e do mundo árabe. Com frequência é solicitada pelos media para se pronunciar em relação à questão palestina (CBS, CNN, NBC, PBS, BBC, Al-Jazeera, entre outros). Tem artigos publicados em títulos tais como o New York Times, Washington Post, LA Review of Books, LA Times, Nation, USA Today, Middle East Eye, Huffington Post e tantos outros.
Ao combinar as perspectivas jurídica e de estudos coloniais tem propiciado um novo olhar em relação a aspectos tais como as origens e natureza do conflito, o falhanço dos Acordos de Oslo e vias para ultrapassar o presente impasse.