O Regime Israelense de Ocupação – Um Arquivo Fotográfico

Acto de Estado (de 2007) é o arquivo que convoca a fotografia para delinear os princípios do regime israelense de ocupação e as modalidades de resistência ao mesmo. Neste regime de apartheid, a fotografia propicia o espaço onde os intervenientes no acto fotográfico – pessoas fotografadas, espectadores e fotógrafos – não estão inteiramente relegados às posições que lhes foram atribuídas pelo regime político que discrimina e afasta cidadãos de não-cidadãos. A fotografia é para os palestinos, governados como não-cidadãos, uma forma de agir como co-cidadãos a par dos não-palestinos, convidando o espectador a interagir com eles como tal. Este arquivo não é motivado pela vontade de mostrar o que se fez aos palestinos, mas antes o que os cidadãos estão a fazer. Procura mostrar o aparato da democracia colonial de ocupação que rouba o presente daqueles que governa como não-cidadãos, representando a apropriação organizada de terra como se esta tivesse ocorrido num passado distante. Estas fotografias comentadas não são sobre o passado. Apresentam palestinos no presente contínuo da Marcha do Retorno, que não começou em 2018, mas no próprio momento de expulsão [em 1948]. Reconhecer que todos os palestinos nestas fotografias exigem retorno e devida reparação é uma pré-condição para a co-cidadania e reconhecimento dos actos de estado cometidos com impunidade como aquilo que são – actos de violência perpetrada contra uma população com a cumplicidade estrutural de outra população [a israelense]. Este reconhecimento requer a rejeição dos mecanismos de justificação que têm permitido que este desastre causado pelo regime persista há várias décadas, assim como o relato agonizante das acções, gestos, encontros e instrumentos que apoiam estas justificações.

Tendo como pano de fundo décadas de subtração da riqueza visual dos palestinos sob a forma de milhões de fotografias guardadas nos arquivos israelenses, este arquivo desafia a longa colonização do discurso da fotografia pela figura do fotógrafo soberano que age em relação aos seus sujeitos, como sendo autor e dono do registo do acontecimento de que os outros foram sujeitos passivos. Embora a maioria dos fotógrafos que tiraram estas fotografias na Cisjordânia e em Gaza durante as três primeiras décadas de ocupação sejam judeus israelenses, os palestinos participaram activamente na formação dos registos fotográficos. Assim, a fotografia constitui um campo de interacções entre fotógrafos, pessoas fotografadas e espectadores, em que o espectador é convocado a rejeitar a temporalidade imperial que procura relegar todos os crimes de expropriação para um passado indefinido, e a assistir à fotografia não como o registo de actos de violência isolados, mas como uma manifestação da violência estrutural em que este regime de ocupação se baseia. Este arquivo convida o espectador a amplificar o apelo dos palestinos à abolição deste regime.

Este não é um arquivo do sofrimento dos palestinos, mas antes o arquivo do desastre causado por um regime que se apoia na contínua despossessão dos palestinos, descartando-se da sua responsabilidade por este desastre, e nos cidadãos que executam e mantêm os princípios de discriminação. Por outras palavras, este arquivo visa chamar a atenção do espectador para o papel que os cidadãos israelenses têm desempenhado, frequentemente em uniforme militar, mas não só, no apoio a este regime ao longo de décadas, privando os palestinos das suas terras, propriedade e direitos, expropriados primeiro em 1948 e novamente em 1967.

A fotografia constitui relações que podem interferir com os resultados da violência política, que separa o que está dentro do que está fora, o antes do depois, os cidadãos dos não-cidadãos. No espaço da fotografia estas classificações não constituem um fait accompli. Com a assistência dos espectadores, «refugiados» podem ser reconhecidos como os que foram expulsos, e cuja expulsão é reversível, na condição de em-breve-retornados. A fotografia não produz categorias políticas mas pode ser o espaço para as desfazer através [da intercessão] do outro. Todas as partes envolvidas – fotógrafos, pessoas fotografadas e espectadores – são convidadas a desaprender e desfazer a norma da subjugação dos palestinos.

A ocupação é um sistema de classificação que se inscreve no espaço e no tempo, tal como no corpo da população que governa, incluindo a população que participa na governação. Dentro da nomenclatura da ocupação, categorias como «terrorista», «motim», «demolição de casas», «detenção administrativa», «trabalhador ilegal» e «checkpoint», são ferramentas ao dispor da produção, distribuição e legitimação da violência. Acto de Estado procura desactivar e desfazer esta nomenclatura. O desafio deste arquivo não consiste tanto na revelação de material desconhecido, secreto, ou de vestígios de eventos escandalosos; mas antes no estabelecer do enquadramento e perspectiva sobre o desastre causado pelo regime, não como fait accompli, mas como evitável, contingente e reversível.

Israeli Regime of Occupation – A Photographic Archive

The photographic archive Act of State (from 2007) is an attempt to use photography to outline the principles of the Israeli regime of occupation and the modalities of resisting it. In this apartheid regime, photography provides a space in which the participants in the event of photography – photographed persons, spectators, and photographers – are not fully reduced to their assigned positions in the differential political regime that separates citizens from non-citizens. Photography is used by Palestinians, who are ruled as non-citizens, to act as co-citizens, along with non-Palestinians, and to invite spectators to conceive and interact with them on equal terms. This archive is not motivated by an impulse to show what was done to Palestinians, but rather what citizens are doing. It seeks to show how the machinery of settler-colonial democracy steals the present tense from those it governs as non-citizens, representing the organized robbery of land as if it occurred in a distant past. These annotated photographs are not about the past. They feature Palestinians in a continuous present of the March of Return, which did not start in 2018, but at the very moment of their expulsion [in 1948]. Recognizing all Palestinians in these photos as demanding return and due repair is a precondition for co-citizenship, co-spectatorship, and the co-recognition of acts of state pursued with impunity for what they are: violence perpetrated against one population through the structural complicity of another. Such recognition entails the rejection of the mechanisms of justification that have enabled this regime-made disaster to last for several decades, and the acceptance of a thoroughly agonizing account of actions, tools, body gestures, encounters, and instruments that support these justifications.

Against the backdrop of the decades-long extraction of visual wealth from Palestinians in the form of millions of photographs now held by Israeli archives, this archive challenges the long-lasting colonization of the discourse of photography by the figure of the master photographer who acts upon his subjects as both the author and the owner of the outcome of the photograph, which others passively attended. Though the majority of the photographers who took these photos in the West Bank and Gaza in the first three decades are Israeli Jews, Palestinians took an active role in shaping what is recorded in the photographs. Photography is understood here as a field of interactions between photographers, photographed persons, and spectators, in which the spectator is called upon to reject the imperial temporality that seeks to relegate crimes of dispossession to a vague past, and to relate to the event of photography not as a record of discrete acts of violence, but as the manifestation of the structural violence on which the Israeli regime is premised. This archive invites its viewers to amplify the continuous call of Palestinians to abolish this regime.

Act of State is not an archive of Palestinians’ suffering, but rather the archive of a regime-made disaster premised on the continuous dispossession of Palestinians and the dissociation of this dispossession from the regime responsible for it, and from the citizens who execute and maintain its principles of differentiation. In other words, this archive aims to call spectators’ attention to the investment of Israeli citizens, often in uniform though not only, in upholding the regime over several decades, and forcing Palestinians to stay away from their land, property, and rights, expropriated from them first in 1948 and again in 1967.

Photography is an event constituted by potential relations that interfere with the outcomes of political violence, that separates inside from outside, before from after, and citizens from non-citizens. In the space offered by photography, none of these classifications can last as a fait accompli. With the assistance of spectators, “refugees” can be recognized as expellees, whose expulsion is reversible, as soon-to-be-returnees. Photography doesn’t yield political categories, but can be a site for their undoing in the presence of others. All parties involved — photographers, photographed persons, and spectators — are called upon to take part in undoing and unlearning the normalization of Palestinians’ plight.

The occupation is a system of classification that writes itself in space and time, and no less so in the body of the population it governs, including the population that participates in ruling. Within the nomenclature of the occupation, categories such as “terrorist,” “riot,” “house demolition,” “administrative detention,” “illegal worker,” and “checkpoint,” are tools involved in the production, distribution, and legitimization of violence. Act of State aims at undoing this nomenclature and render it inoperative. The challenge of this archive did not lie in presenting unknown material, secret documents, or traces of scandalous events, but rather in establishing the framework and perspective upon the regime-made disaster not as a fait accompli, but an avoidable, contingent, and reversible.

1967

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2002

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2003

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2004

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2005

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2006

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2007

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Extras

MARC LENOT, “COLECTIVA, ACTO DE ESTADO. O REGIME ISRAELITA DE OCUPAÇÃO, UM ARQUIVO FOTOGRÁFICO (1967-2007)”, recensão, in www.artecapital.net, dezembro de 2021.

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O Arquivo Municipal de Lisboa apresenta uma exposição/instalação (até 8 de janeiro) da filósofa e historiadora Ariella Aïsha Azoulay, que se define como uma palestiniana judía e não como uma israelita, e que actualmente vive e ensina nos Estados Unidos, mostrando pouco mais de 700 fotografias, tiradas entre 1967 e 2005, sobre a ocupação israelita da Palestina. O conjunto é intitulado Acto de Estado, a ação do estado, com o subtítulo "O Regime Israelita de Ocupação, um Arquivo Fotográfico (1967-2007)"; as fotografias e o seu texto, cada uma precariamente fixada por quatro pinos, são dispostas num friso em três filas ao longo das paredes da sala, ano por ano. Os anos mais representados são 1967 com 78 fotos, depois 1988, 1969, 1968 e 1987, estes cinco anos representando dois terços do total. As fotografias foram tiradas por pouco mais de 70 fotógrafos, individuais ou membros de coletivos de fotógrafos como Active Stills e Israel Sun, ou ONGs, como a organização de direitos humanos B'Tselem (que, desde então, confiou aparelhosde fotografia ou vídeo aos palestinianos para que eles pudessem documentar a ocupação), ou a organização de militares resistentes Breaking The Silence (que permanecem anónimos). Com raras exceções, todos os fotógrafos residiam em Israel e na Palestina, e não são "grandes repórteres" de passagem antes de partirem para outro lugar; 80% são judeus israelitas, sendo os outros palestinianos, com raros estrangeiros estabelecidos no país (como a francesa Anne Paq da Active Stills). Entre eles, poucos nomes conhecidos fora da região: Miki Kratsman, Anat Saragusti, Rina Castelnuovo, o artista Aïm Deelle Laski (com a imagem de uma transferência de mercadorias entre Israel e a Palestina, tirada com uma câmara obscura "pita" com múltiplas aberturas, em fotografia horizontal). Ariella Aïsha Azoulay montou esta coleção, anotou-a e comentou-a, e deu-a ao Gabinete de Fotografia do Centro Pompidou para que ficasse acessível aos investigadores (mas o Pompidou não a mostrou até agora). O catálogo só existe em hebraico e italiano. Não se pode simplesmente falar de fotografia documental, porque cada imagem é posta em perspetiva por um comentário de Azoulay que não só descreve a situação, como também destaca os mecanismos de poder por trás da imagem.

Com efeito, nestes textos, como nos seus livros posteriores, Ariella Aïsha Azoulay analisa a fotografia como um meio de resistência, um espaço em que os participantes (fotógrafos, fotografados e espectadores) não se deixam reduzir aos papéis a que o poder do regime imperialista gostaria de os constranger, e recusam-se a ser segregados entre cidadãos e não cidadãos. Ao mostrar como, através destas imagens, os Palestinianos podem exigir reparação pelos crimes cometidos contra eles, a fotografia permite identificar e rejeitar os mecanismos de justificação do regime: em vez do "mestre fotógrafo" ocidental, ao estilo Magnum (ver Robert Capa), que seria o autor e proprietário do evento fotografado, em detrimento das vítimas passivas, estas fotografias, entendidas como locais de interação entre fotógrafos, fotografados e espectadores, quer sejam tomadas por judeus israelitas ou palestinianos, mostram o papel ativo dos palestinianos. Como Azoulay diz, este corpus não é um arquivo do sofrimento dos palestinianos, mas um arquivo do desastre causado pelo regime que desapropria os palestinianos dos seus bens e tenta desapropriar-lhes da sua história. O objetivo deste arquivo é rejeitar as categorias impostas pelo regime imperial ("terrorista", "motim", "detenção administrativa", "posto de controlo", "não-cidadão") e torná-las inoperantes; estabelece um quadro para estudar a catástrofe causada pelo regime imperial, não como um facto consumado, mas como uma situação evitável e reversível.

Em vez de detalhar as violências, os prisioneiros, os feridos, os mortos, as humilhações, as destruições, as expulsões ao longo destas imagens, eu gostaria de mostrar apenas um aspeto, aquele do retrato voluntário, como, precisamente, uma interação entre os atores da fotografia. Se o homem torturado pelo Shabak (foto B'tselem, 1998) tem um rosto dissimulado, se alguns escondem os seus rostos por prudência (Kratsman, Belém, 1993), outros optam por se mostrar com os rostos descobertos, como Zakaria Zubeidi, um dos líderes da resistência em Jenin, cujos traços os serviços israelitas ignoram e que, por orgulho, pede ao fotógrafo Miki Kratsman para tirar uma fotografia dele, um gesto talvez imprudente, mas digno e orgulhoso (Kratsman vai exibir outro retrato de Zubaidi de pé à entrada da sua exposição no Museu de Israel). Outra interação em pé de igualdade entre fotógrafo e fotografado para testemunhar em detrimento do pudor, Daoud Atyia, 19 anos, fotografado quase nu por Micha Kirschner em 1984, inválido em resultado de ferimentos infligidos pela polícia fronteiriça israelita, que o impedem de permanecer de pé; e também a jovem, fotografada por Anat Saragusti, em 1983, que levanta a sua blusa e abre as calças para mostrar a cicatriz do seu ferimento de bala, um gesto impúdico mas orgulhoso, assumido pela fotografada que simplesmente quer testemunhar, sem ódio, sem reivindicação.

Já mencionei a Sra. Abu Zaheir (ou Zohrir), que quer que as lesões nas pernas sejam fotografadas, mas que não se quer despir em frente ao fotógrafo, Miki Kratsman, um homem, judeu ainda por cima: ela negoceia o enquadramento, negando ao fotógrafo um papel dominante, mas aceitando que a fotografia (regulada por Kratsman, desencadeada pelo intérprete, uma mulher árabe) seja difundida, tendo entendido muito bem a diferença entre o evento fotografado e o seu resultado. Orgulho resistente ou desejo resiliente de testemunhar, estas fotografias são exemplos deste "contrato civil" entre os participantes no evento fotográfico, nos antípodas da clássica dominação fotográfica: é também isso que a Palestina nos pode ensinar.

No site www.artecapital.net

Acto
de Estado

História Fotográfica da Ocupação
dos Territórios Palestinos,
1967-2007

Ariella Aïsha Azoulay

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