A Limpeza Étnica da Palestina

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I. Pappe

A Limpeza Étnica da Palestina

A guerra de 1948 em Israel / Palestina é designada em Israel como «Guerra da Independência», amiúde acompanhada da glorificação dos soldados e dos oficiais judeus que nela tomaram parte, com a ocultação dos seus crimes e difamação das vítimas. Já os palestinos designam-na de Nakba, «catástrofe», o que dá conta dos devastadores efeitos que produziu na sociedade palestina, não elucidando porém quanto à natureza dos acontecimentos ocorridos.

Com base na aturada investigação das fontes – arquivos documentais que no final da década de 1990 passam a estar acessíveis, ficheiros secretos, testemunhos orais, entre outros – nesta obra incisiva, Ilan Pappe propõe que a morte, o massacre e a expulsão de quase um milhão de pessoas, o despovoamento e a destruição de de aprox. 500 aldeias e bairros urbanos sejam encaradas como uma vasta e deliberada operação de «limpeza étnica». Traduzida em dezenas de línguas e países, A Limpeza Étnica da Palestina, é porventura uma das mais importantes obras sobre a história moderna de Israel / Palestina.

Quanto ao fundo do problema que o conflito coloca, para ambos os povos em luta e ainda para todos nós, o autor sintetiza nos seguintes termos: «O problema de Israel nunca foi a sua judeidade – o judaísmo tem muitas faces e muitas delas proporcionam uma base sólida para a paz e a coabitação –, quanto o seu caráter étnico-sionista. O sionismo não tem as mesmas margens de pluralismo que o judaísmo oferece, sobretudo não para os palestinos. Estes nunca poderão ser parte do Estado e do espaço sionistas e continuarão a lutar – e oxalá que a sua luta seja pacífica e bem sucedida. Caso contrário, será desesperada e vingativa e, qual turbilhão, sugará tudo numa grande e perpétua tempestade de areia, que irá grassar não só nos mundos árabe e muçulmano, mas também na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos – as potências que, cada uma à sua maneira, alimentam a tempestade que ameaça arruinar-nos a todos».

Ilan Pappe

I. PAPPE (n.1954), historiador, é diretor do European Centre for Palestine Studies, da Universidade de Exeter. Filho de pais alemães que em 1930 fugiram da perseguição nazi, nasceu em Haifa, Israel. Licenciou-se pela Universidade Hebraica de Jerusalém (1979) e obteve o doutoramento pela Universidade de Oxford (1984). Lecionou na Universidade de Haifa entre 1984 e 2008. A partir de 2008 estabelece-se no Reino Unido.

Entre as quase duas dezenas de livros e centenas de ensaios breves que publicou, destacam-se Britain and the Arab-Israeli Conflict (1988), História da Palestina Moderna, Uma Terra, Dois Povos (2003; ed. pt Caminho) e Dez Mitos Sobre Israel (2017; ed. pt Almedina).

Com posições políticas bem marcadas, militante do movimento BDS, é um defensor da solução de «um Estado» entre o Mediterrâneo e o Jordão, com igualdade de direitos cívicos e políticos entre israelenses e palestinos. Encara o seu trabalho de historiador no quadro do dever de uma memória verdadeira, que reconheça o dano causado aos palestinos, como condição para a reconciliação entre as partes e para a construção de uma paz sustentável.