A Limpeza Étnica da Palestina em 1948

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I. Pappe

A Limpeza Étnica da Palestina em 1948

Tendo por base os primeiros capítulos de um novo livro [The Ethnic Cleansing of Palestine, Oxford, Oneworld, 2006; A Limpeza Étnica da Palestina, trad. L. G. Soares, São Paulo, Sundermann, 2016], este ensaio enfatiza os preparativos sistemáticos que lançaram as bases para a expulsão em 1948 de mais de 750.000 palestinos do território do recém criado Estado de Israel. Enquanto esboça o contexto e os desenvolvimentos diplomáticos e políticos do período, o artigo destaca em particular o projeto plurianual «Arquivos da Aldeia» (1940-47), envolvendo a compilação sistemática de mapas e informação secreta para cada aldeia árabe, além da elaboração – sob a direcção de um «comité» interno com menos de uma dúzia de homens, liderado por David Ben-Gurion – de uma série de planos militares que culminam no Plano Dalet, segundo o qual a guerra de 1948 foi travada. O artigo termina com a declaração de um dos objetivos subjacentes do autor ao escrever o livro: defender um paradigma de limpeza étnica para substituir o paradigma da guerra como base para a investigação académica e o debate público sobre 1948.

Ilan Pappé

I. PAPPÉ (n.1954), historiador, é diretor do European Centre for Palestine Studies na Universidade de Exeter. Filho de pais alemães que em 1930 fugiram da perseguição nazi, nasceu em Haifa, em Israel efetuou o serviço militar obrigatório, licenciou-se pela Universidade Hebraica de Jerusalém (1979) e obteve o doutoramento pela Universidade de Oxford (1984). Lecionou na Universidade de Haifa entre 1984 e 2008. Face às crescentes dificuldades em viver e desenvolver a sua atividade em Israel, a partir de 2008 estabelece-se no Reino Unido. Entre as quase duas dezenas de livro e centenas de ensaios breves que publicou, destacam-se Britain and the Arab-Israeli Conflict (1988), A History of Modern Palestine (2003; História Moderna da Palestina), A Limpeza Étnica da Palestina (2006) e Ten Myths about Israel (2017; Dez Mitos sobre Israel).

Foi e permanece um dos mais proeminentes «novos historiadores» israelenses, que, a partir dos anos 1990, com a abertura dos arquivos documentais relativos à constituição do Estado de Israel, reaprecia este período, resolutamente qualificando o processo que resultou na expulsão de aproximadamente 750.000 árabes da sua terra Natal como uma vasta e deliberada operação de «limpeza étnica». Disto mesmo dá conta em A Limpeza Étnica da Palestina, obra com um notável percurso editorial, traduzida em dezenas de línguas e países.

Com posições políticas bem marcadas, é um defensor da solução de «um Estado» entre o Mediterrâneo e o Jordão, com igualdade de direitos cívicos e políticos entre israelenses e palestinos. Encara o seu trabalho de historiador no quadro do dever de uma memória verdadeira, que reconheça o dano causado aos palestinos, como condição para a reconciliação entre as partes e para a construção de uma paz sustentável.