O Exílio na Soberania

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A. Raz-Krakotzkin

O Exílio na Soberania

Crítica da «negação do exílio» na cultura israelense

O «retorno à história» constitui premissa essencial do projeto sionista e «a negação do exílio» o enunciado central que caracteriza a consciência, a concepção da história, a memória coletiva e política de Israel. Através da «negação do exílio» procura-se definir uma colectividade judaica com história nacional própria, segundo um modelo social e cultural europeu e moderno, assim excluindo a diversidade da existência judaica ao longo da história, i.e. negando a sua historicidade. A esta démarche o ensaio contrapõe as evidências dessa diversidade, feita de distintos contextos, tempos, países, línguas e sistemas culturais, de onde eram oriundos os judeus. O «retorno à história» da ideologia sionista (para a qual concorreu a adesão ao conceito de «anti-semita») corresponde a uma profunda des-historicização da existência judaica.

A negação concreta da história tornou-se extensiva à história de todos os judeus, na Europa, mas também no mundo islâmico em relação ao qual o sionismo desenvolveria um discurso tipicamente orientalista, contrapondo-se e impondo-se o referente identitário do homem ocidental. Para o sionismo, enquanto ideologia nacionalista nascida na Europa, a «negação do exílio» veio para negar tudo quanto fosse considerado oriental no judeu, para negar o outro e, por esta via, o árabe. A consciência nacional e soberania israelense assentam na combinação entre teologia e orientalismo – negação do exílio e do judeu oriental. Buscando uma alternativa a estas concepções, contrastando os fundamentos de uma consciência que, à partida, coloca em oposição judeus e árabes, Raz-Krakotkzin propõe a ideia radical de binacionalismo, visando o vínculo entre ambas as partes.

Amnon Raz-Krakotzkin

A. RAZ-KRAKOTZKIN (n.1958) é Professor de História Judaica e dirige o Departamento de Estudos Interdisciplinares da Universidade Ben-Gurion do Neguev, em Bersebá. Foi também investigador sénior no Instituto Van Leer de Jerusalém e no Wissenschaftskolleg de Berlim, onde leccionou no âmbito do programa «A Europa no Médio Oriente – O Médio Oriente na Europa».

Raz-Krakotzkin estuda a história e pensamento judaico, compreendendo as suas matrizes ocidental e árabe, e, além disso, explora a consciência histórica sionista, considerando os aspectos de desacordo entre judaismo e sionismo. Entre as suas publicações contam-se The Censor, the Editor and the Text. The Catholic Church and the Shaping of the Jewish Canon in the Sixteenth Century (University of Pennsylvania Press, 2007), pela qual recebeu o Prémio Zalman Shazar de História Judaica, e ainda Exil et souveraineté. Judaïsme, sionisme et pensée binationale (Fabrique, 2007). As suas penetrantes análises têm merecido a atenção de autores tão diversos como Noura Erakat ou Judith Butler, Ilan Pappé ou Georges Didi-Huberman.