A Indústria do Cinema face à Indústria do Extermínio

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S. Sand

A Indústria do Cinema face à Indústria do Extermínio

Do malvado judeu Süss, a Schindler o bom alemão

Pelo seu impacto público, o cinema constitui um testemunho privilegiado das sensibilidades populares, das adesões e rejeições políticas de uma determinada época, podendo o filme de ficção informar melhor a este respeito do que o documentário. E em boa medida é assim porque o filme histórico, enquanto instrumento de elaboração das memórias colectivas, conta um passado em competição com os agentes institucionais da memória.

Em O Século XX no Ecrã o autor analisa, através de uma vasta seleção de filmes, a representação audiovisual dos grandes acontecimentos do século XX. Neste excerto, em especial, Sand analisa a representação da ascensão do fascismo e do nazismo, e, por fim, do Holocausto. Apesar do extermínio de comunidades humanas ter ocorrido várias vezes na história, a destruição em massa de seres humanos durante a Segunda Guerra Mundial, planeada com tecnologia moderna e industrial, constituiu um fenómeno sem precedentes.

Tal como o autor nos mostra, a partir dos anos 1930 o cinema foi usado para propagar ideias racistas e mobilizar intenções ideológicas, tendo como alvo privilegiado as comunidades judaicas da Europa. Desde os anos 1940, vários filmes evocaram este mundo de perseguições e horrores. Embora nos primeiros anos do pós-guerra o número de produções sobre o extermínio em massa perpetrado pelos nazis ter sido limitado, foi gradualmente aumentando até se tornar num subgénero cinematográfico, com características próprias. Nos anos 1990 chega a sua consagração através dos Óscares.

A representação do Holocausto desenvolver-se-á até desembocar em alguns filmes com uma forte marca autoral, subjetiva, em alguns casos poemas-mitos, em contracorrente com a narrativa histórica, em que a tragédia que ceifou 11 milhões de vidas humanas se cinge aos 6 milhões de vítimas judaicas. É assim que a apreciação do historiador em relação a Alain Resnais e a Claude Lanzmann é claramente contrastada.

Shlomo Sand

S. SAND (n.1946) é historiador e Professor Emérito da Universidade de Telavive, onde lecionou História Contemporânea. Filho de pais polacos, de cultura iídiche e sobreviventes do Holocausto, passou os dois primeiros anos de vida num «campo para pessoas deslocadas» antes da família emigrar para Israel, onde efetuou o serviço militar obrigatório e combateu na Guerra dos Seis Dias (1967). Doutorou-se em 1982 pela École des hautes études en sciences sociales, em Paris. A sua investigação tem incidido sobre a história cultural moderna, o movimento sionista e a construção de Israel. Com tradução em mais de 30 países, Como o Povo Judeu foi Inventado (2008), Como a «Terra de Israel» foi Inventada (KKYM+P.OR.K, 2021) e Como Deixei de Ser Judeu (KKYM+P.OR.K, 2023) propiciam-lhe projeção mundial. Entretanto publicou Como uma Raça foi Inventada (KKYM+P.OR.K, 2022), descrevendo o processo de racialização dos judeus, decorrendo entre a Europa judeófoba e o Israel nacionalista, denunciando em ambos os casos a fobia em relação ao «outro», que já foi judeu e com inquietante frequência tende agora a ser árabe. É ainda autor de Le XXe siècle à l’écran (2004), dedicado ao cinema.

Shlomo Sand encara Israel como fait accompli, mas reclama a transformação do Estado judaico num Estado de todos os seus cidadãos, independentemente das etnias ou religiões.