Com base nos fins expressos da operação militar e no deliberado visar da população civil de Gaza, com a privação de bens essenciais e indiscriminados bombardeamentos, Judith Butler não hesita em qualificar como «genocídio» a operação militar que Israel desenvolve na sequência do massacre cometido pelo Hamas em 7.10.2023. Governo de Israel e média ocidentais concorrem para desqualificar as vidas palestinas perdidas como não merecendo ser lamentadas. É a resultante de um regime colonial de ocupação, que trata os palestinos como infra-humanos. Segundo a autora «esta violência a que assistimos pertence a uma violência há muito em curso, uma violência que começou há 75 anos e tem sido caracterizada por uma política sistemática de expulsões, deslocações, massacres, encarceramentos, detenções ilegais, roubo de terras e destruição de vidas. A situação exige, de facto, uma solução política muito mais abrangente. Enquanto a Palestina não for livre e os palestinos não puderem viver como cidadãos e atores políticos num mundo em cuja construção participem – enquanto não forem politicamente autónomos e não tiverem democracia – continuaremos a assistir a actos de violência. Continuaremos a assistir à violência estrutural que produz este tipo de resistência»..

Judith Butler

J. BUTLER (n.1956), filósofa, e uma das importantes pensadoras do feminismo e da teoria queer, é professora do Departamento de Retórica e Literatura Comparada da Universidade da Califórnia em Berkeley. A partir de 1988 dedicou a sua investigação em torno da performatividade e dos problemas de género. Militante e activista LGBTQ, publicou livros fundamentais sobre os limites discursivos do «sexo» integrando na sua análise a intercessão crítica de autores como Sigmund Freud, Simone de Beauvoir, Julia Kristeva, Jacques Lacan, Luce Irigaray, Jacques Derrida e Michel Foucault. A vasta recepção da sua obra, onde se contam títulos como Gender Troubles (1990; Problemas de Género); Bodies that Matter (1993; Corpos que Importam) tem contribuído para o desenvolvimento dos estudos culturais no campo da psicanálise, da literatura e do cinema. Com Precarious Life, The Powers of Mourning and violence (2004) inaugura a vertente de filosofia política que se irá centrar, mais recentemente, na filosofia judaica e, em especial, nas críticas pré-sionistas e sionistas da violência estatal, em Parting Ways (2013; Caminhos Divergentes). Entretanto publicou The Force of Nonviolence. An Ethico-Political Bind (2020; A Força da Não-Violência). Em 2012, é agraciada com o Prémio Theodor W. Adorno da cidade de Frankfurt-am-Main.

A 7.10.2023 o Hamas ataca um conjunto de povoações no chamado «envelope de Gaza». As notícias do aterrador e revoltante ataque, com ampla cobertura mediática, vêm exigir uma tomada de posição moral de todo o mundo pela reprovação dos massacres. Todavia, na esfera política, o governo israelense, como reacção imediata declara guerra aos «animais» que perpetraram a matança.

Recusando que o juízo se cinja ao quadro, limitado e maniqueísta, proposto pelos meios de comunicação social, Judith Butler propõe um responsável alargamento moral deste quadro, identificando o presentismo e o sensacionalismo da indignação moral, mas também, as objecções críticas decorrentes da «relativização» e da «contextualização» do brutal acontecimento.

Neste sentido, considera «proporcionar um entendimento mais profundo da situação, algo que o simples e incontestado enquadramento do momento presente não poderá fornecer». Em vez de se limitar à condenação moral e política da violência trata de descobrir as causas da situação presente e antever as possibilidades de mudança das condições, para que um futuro de violência não seja o único possível. Se, com efeito, as «formas de racismo colonial […] são parte do problema estrutural a resolver, da persistente injustiça a superar», importa pois não só denunciar a política de ocupação e apartheid, que reemerge do conflito territorial israelo-palestino, como inscrever o longo alcance de luto e lamentação que, ao longo de décadas, consitui o memorial das suas inúmeras vítimas. Como afirma, com clarividência: «não podemos permitir-nos ignorar a história da injustiça em nome da certeza moral, já que desse modo incorremos no risco de cometer novas injustiças, e a nossa certeza está condenada a capitular, mais cedo ou mais tarde, nesse terreno instável».

Judith Butler

J. BUTLER (n.1956), filósofa, e uma das importantes pensadoras do feminismo e da teoria queer, é professora do Departamento de Retórica e Literatura Comparada da Universidade da Califórnia em Berkeley. A partir de 1988 dedicou a sua investigação em torno da performatividade e dos problemas de género. Militante e activista LGBTQ, publicou livros fundamentais sobre os limites discursivos do «sexo» integrando na sua análise a intercessão crítica de autores como Sigmund Freud, Simone de Beauvoir, Julia Kristeva, Jacques Lacan, Luce Irigaray, Jacques Derrida e Michel Foucault. A vasta recepção da sua obra, onde se contam títulos como Gender Troubles (1990; Problemas de Género); Bodies that Matter (1993; Corpos que Importam) tem contribuído para o desenvolvimento dos estudos culturais no campo da psicanálise, da literatura e do cinema. Com Precarious Life, The Powers of Mourning and violence (2004) inaugura a vertente de filosofia política que se irá centrar, mais recentemente, na filosofia judaica e, em especial, nas críticas pré-sionistas e sionistas da violência estatal, em Parting Ways (2013; Caminhos Divergentes). Entretanto publicou The Force of Nonviolence. An Ethico-Political Bind (2020; A Força da Não-Violência). Em 2012, é agraciada com o Prémio Theodor W. Adorno da cidade de Frankfurt-am-Main.

Na sua recensão aos Escritos Judaicos de Hannah Arendt, Judith Butler escrutina os modos de pertença e de rejeição próprios da existência, religião e história judaica, que ao longo dos anos suscitarão tomadas de posição por parte de Arendt, em particular os paradoxos políticos subjacentes à criação do Estado-nação de Israel.

Esboçam-se assim as linhas essenciais do pensamento arendtiano dedicadas ao problema dos judeus do pós-guerra, ao analisar-se o contexto histórico e político que originou a judeofobia e o Holocausto na Europa, mas também a contraposição crítica em relação ao destino das minorias ou a interpretação da «banalidade do mal» em chave jurídica e política.

Na sua leitura dos Escritos Judaicos, Judith Butler observa as contradições, as incertezas e divergências, relativamente à condição de «ser judeu», sublinhando a posição de Arendt – judia da diáspora – face à distinção dogmática entre assimilacionismo e sionismo. Perante a crítica de Gershom Scholem a Arendt, a respeito do seu suposto «desamor» em relação aos judeus, evidencia-se a autonomia do seu pensamento em relação a um debate que escolheu a noção de «povo judaico» como premissa e álibi da judeofobia. Arendt reconhece ser judia «simplesmente», declarando-se crítica do nacionalismo judaico, fundado numa pretensa secularidade, bem como refutando a política fundada em motivos religiosos. Alerta-se para o pernicioso e perigoso clamor do nacionalismo, subjacente à adopção da perspectiva de uma pertença nacional judaica.

As oposições que o pensamento de Arendt atravessa – a sua pertença judaica, a sua crítica ao nacionalismo, entre outras – conferem uma notável atualidade aos seus escritos.

Judith Butler

J. BUTLER (n.1956), filósofa, e uma das importantes pensadoras do feminismo e da teoria queer, é professora do Departamento de Retórica e Literatura Comparada da Universidade da Califórnia em Berkeley. A partir de 1988 dedicou a sua investigação em torno da performatividade e dos problemas de género. Militante e activista LGBTQ, publicou livros fundamentais sobre os limites discursivos do «sexo» integrando na sua análise a intercessão crítica de autores como Sigmund Freud, Simone de Beauvoir, Julia Kristeva, Jacques Lacan, Luce Irigaray, Jacques Derrida e Michel Foucault. A vasta recepção da sua obra, onde se contam títulos como Gender Trouble (1990; Problemas de Género); Bodies that Matter (1993; Corpos que Importam) tem contribuído para o desenvolvimento dos estudos culturais no campo da psicanálise, da literatura e do cinema. Com Precarious Life, The Powers of Mourning and violence (2004) inaugura a vertente de filosofia política que se irá centrar, mais recentemente, na filosofia judaica e, em especial, nas críticas pré-sionistas e sionistas da violência estatal, em Parting Ways (2013; Caminhos Divergentes). Em 2012, é agraciada com o Prémio Theodor W. Adorno da cidade de Frankfurt-am-Main.