Nesta conferência, Raz-Krakotzkin desenvolve a sua concepção de binacionalismo, como resposta ao persistente conflito israelo-palestino.
A partir de debate intelectual inaugurado por Martin Buber, em 1926, o autor considera a história das organizações judaicas empenhadas numa visão política de partilha, os contributos de Gershom Scholem, em especial de Hannah Arendt, Edward Said, Mahmoud Darwish e ainda de Walter Benjamin, os quais constituem pontos de vista diferenciados, com elementos datados e por vezes inaceitáveis, mas também convergentes e de uma surpreendente atualidade.
O paradigma binacional constitui uma radical alternativa às respostas baseadas em «processos de paz», que assentam no pressuposto da separação entre judeus e árabes. Ao incluir o colonizador e o colonizado, o quadro de uma concepção política binacional permitiria o primeiro passo para o processo de descolonização das atuais relações, colocando-se como uma solução política e social para a criação de um efectivo vínculo entre judeus e árabes. A perspectiva desenvolvida por Raz-Krakotzkin é intrinsecamente decolonial, ao declarar-se a favor de uma política de justiça e igualdade que reconhce iguais direitos de cidadania ao excluído e subjugado povo palestino.
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O «retorno à história» constitui premissa essencial do projeto sionista e «a negação do exílio» o enunciado central que caracteriza a consciência, a concepção da história, a memória coletiva e política de Israel. Através da «negação do exílio» procura-se definir uma colectividade judaica com história nacional própria, segundo um modelo social e cultural europeu e moderno, assim excluindo a diversidade da existência judaica ao longo da história, i.e. negando a sua historicidade. A esta démarche o ensaio contrapõe as evidências dessa diversidade, feita de distintos contextos, tempos, países, línguas e sistemas culturais, de onde eram oriundos os judeus. O «retorno à história» da ideologia sionista (para a qual concorreu a adesão ao conceito de «anti-semita») corresponde a uma profunda des-historicização da existência judaica.
A negação concreta da história tornou-se extensiva à história de todos os judeus, na Europa, mas também no mundo islâmico em relação ao qual o sionismo desenvolveria um discurso tipicamente orientalista, contrapondo-se e impondo-se o referente identitário do homem ocidental. Para o sionismo, enquanto ideologia nacionalista nascida na Europa, a «negação do exílio» veio para negar tudo quanto fosse considerado oriental no judeu, para negar o outro e, por esta via, o árabe. A consciência nacional e soberania israelense assentam na combinação entre teologia e orientalismo – negação do exílio e do judeu oriental. Buscando uma alternativa a estas concepções, contrastando os fundamentos de uma consciência que, à partida, coloca em oposição judeus e árabes, Raz-Krakotkzin propõe a ideia radical de binacionalismo, visando o vínculo entre ambas as partes.
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